Como a Índia está usando plástico para construir estradas

Mistura foi criada em 2001 e virou política pública. Atualmente, está em 100 mil km de estradas no país

22/09/2017


Homem transporta embalagens de plástico para depósito de lixo em Panchkula, ao norte da Índia, em 2011


Em uma postagem de 12 de setembro em sua página do Facebook, o Fórum Econômico Mundial destacou uma prática da Índia para lidar com o lixo plástico: empregar o material na construção de estradas. Com sede na Suíça, a entidade é conhecida por promover anualmente um encontro entre empresários, políticos, economistas e jornalistas em que os rumos da economia mundial são discutidos.


Segundo reportagem de março de 2017 no jornal Times of India, a técnica que utiliza plástico reciclado em estradas foi criada em 2001, e passou a ser adotada como uma política pública do governo federal indiano em 2015. Hoje, há cerca de 100 mil km de estradas com o material no país.

O lixo plástico é um problema desde que o plástico sintético começou a ser produzido industrialmente, na década de 1950, mas ele tem se tornado uma questão maior com o tempo. Como poucos fungos e bactérias têm a capacidade de biodegradá-lo, no decorrer das décadas a maior parte do plástico se acumulou na natureza, e em um ritmo cada vez maior conforme o consumo aumenta.

Apenas em 2015, 380 milhões de toneladas de plástico foram produzidas. Parte desse material é despejada no oceano, onde se quebra em partículas menores que se concentram flutuando sobre porções continentais de água.

A estratégia da Índia para lidar com o plástico

De acordo com um trabalho publicado em 2014 na revista científica European Polymer Journal, a adição de polímeros sintéticos, que são um tipo de plástico, aos materiais usados na construção de estradas ganhou força na década de 1970 na Europa e nos Estados Unidos.

O objetivo da mistura não era proteger o meio ambiente, já que ela utilizava plásticos novos, e não reciclados. A meta era fortalecer estradas, que, com o plástico, se tornam mais resistentes ao peso, ao calor e a variações de temperatura, além de diminuir o barulho produzido pelo tráfego.

Segundo uma reportagem de 2016 do jornal britânico The Guardian esse tipo de tecnologia com plástico não reciclado aumenta entre 30% e 50% os custos das estradas.

A técnica utilizada na Índia, que aproveita o plástico reciclado e corta custos, foi criada em 2001 por Rajagopalan Vasudevan, um professor de química do Thiagarajar College of Engineering, no sul do país. A técnica mistura o material ao betume, usado na construção de estradas. Tanto o plástico quanto o betume são derivados de combustíveis fósseis, como o petróleo.

Em entrevista concedida em março de 2017 ao jornal The Times of India, Vasudevan afirmou que, normalmente, 10 toneladas de betume são utilizadas para construir 1 km de estradas. Com sua técnica, 1 tonelada de plástico é adicionada a 9 toneladas de betume.

Isso significa que para cada quilômetro de estrada construído o equivalente a 1 milhão de sacolas plásticas é utilizado.

O pesquisador patenteou sua técnica em 2006, e a compartilhou gratuitamente com o governo indiano. Ao todo, 11 dos 29 estados indianos implementaram essa tecnologia até o momento. Com sua invenção, Vasudevan se tornou uma figura conhecida. Ele ministrou em 2015 uma palestra para a organização de mídia TED (Technology Enterntainment Design), entidade que afirma que promove "ideias que valem a pena ser propagadas”.

Em uma reportagem de setembro de 2017, o jornal indiano Financial Express explica uma das formas de produzir a mistura -a fórmula pode ter variações de acordo com o tipo de uso que se planeja para a estrada. Primeiro, o lixo plástico é coletado e triturado. Areia e pedriscos são aquecidos a 165ºC, e betume, a 160ºC, misturados entre si e em seguida adicionados ao plástico triturado. Depois, mais betume é adicionado.

Nos anos 2000, a Junta Central de Controle de Poluição da Índia elaborou um estudo em parceria com o Thiagarajar College of Engineering Madurai para avaliar a qualidade das estradas com plástico implementadas entre 2002 e 2006 em diferentes cidades da Índia. De acordo com a entidade, mesmo estradas com quatro anos de idade “não desenvolveram buracos, sulcos, desmembramento ou falhas nas bordas”.

Em 2015, o governo central determinou que cidades com mais de 500 mil habitantes deveriam passar a adotar a tecnologia na construção de quaisquer estradas em seu entorno.

Um plano de investimentos nacional anunciado no início de 2016 previa gastos de R$ 110 bilhões na construção de estradas até o final de 2017.

É possível que estradas liberem 'microplásticos'

Mesmo essa aplicação pode não ser, no entanto, uma solução definitiva para o lixo plástico. Como não é biodegradado, no decorrer dos anos, o material tende a se quebrar em partículas menores do que 5 micrômetros, medida que representa um metro dividido por um milhão. Essas partículas são chamadas de microplásticos.

A reportagem do Guardian ressalta que é possível que as estradas com plásticos em sua composição também liberem essas partículas conforme são utilizadas e expostas ao sol.

Nos últimos anos, estudos científicos têm descoberto que o microplástico está presente em moluscos e peixes consumidos por humanos, no sal de cozinha vendido nos mercados, na cerveja, no mel, no ar e mesmo na água de torneira. Apesar disso, a ciência ainda sabe pouco a respeito de seu impacto sobre a saúde humana.

Fonte: Nexo Jornal (21/09/2017)




Acordo para resíduos deve chegar a eletroeletrônicos

04/10/2017


Hartmann defende mudança de paradigma no sistema industrial


Se tudo transcorrer dentro do previsto, a próxima cadeia produtiva que deve assinar um acordo setorial dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos (instituída pela Lei nº 12.305, de 2010) é a de eletroeletrônicos. A coordenadora de Resíduos Sólidos do Ministério do Meio Ambiente, Sabrina Andrade dos Santos Lima, acredita que o acerto possa ser concretizado antes do início de 2018.

O acordo setorial é firmado entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes para estabelecer a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. A meta é promover a logística reversa, que prevê que, após passar pelo consumidor final, artigos voltem às suas origens para reaproveitamento ou para outra destinação ambientalmente adequada. Até o momento, já foram assinados os acordos setoriais de embalagens plásticas de óleos lubrificantes, lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, e de embalagens em geral.


Apesar desse avanço, a coordenadora de Resíduos Sólidos do Ministério do Meio Ambiente admite que o cronograma de aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos não está se desenvolvendo como se esperava originalmente. Entre as dificuldades enfrentadas, Sabrina cita problemas sociais, financeiros e de pessoal para efetivar as ações necessárias. A integrante do Ministério do Meio Ambiente participou ontem do Energiplast 2017, promovido pelo Comitê Sinplast (Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul) de Reciclagem, na Fiergs.

O diretor da Comeplax, Soluções em Reciclagem e coordenador do Comitê Sinplast de Reciclagem, Luiz Henrique Hartmann, defende que é preciso mudar paradigmas nos processos industriais. O dirigente explica que o modelo tradicional é de uma economia linear, que extrai, transforma, consome e descarta. Dentro desse cenário, Hartmann comenta que cerca de 95% dos artigos produzidos, em geral, são jogados fora após o primeiro uso. Muitos desses itens acabam parando em locais inadequados, como rios e oceanos. O plástico compõe a maior parte dos resíduos descartados, e as embalagens plásticas representam 26% desse material.

O vice-coordenador da Câmara Nacional de Plásticos Reciclados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e vice-presidente do Sindicato das Indústrias Plásticas do Sul Catarinense (Sinplasc), Alceu Lorenzon, comenta que é viável utilizar materiais reciclados em 90% das cadeias produtivas, como peças automotivas, eletrodomésticos, brinquedos, entre outros. Além disso, a possibilidade de os fabricantes de plásticos colocarem orientações em seus produtos sobre como reciclar está sendo discutida na Câmara Nacional de Plásticos Reciclados da Abiplast.

Entretanto o dirigente salienta que a relação de custos entre matérias-primas recicladas e virgens é uma barreira a ser vencida. "Reciclar é uma coisa muito bonita, utópica, não se encontra quem é contra, mas reciclar para que, se não temos um mercado, se hoje o material virgem que vem dos países asiáticos é mais barato do que o reciclado aqui no Brasil?", indaga.

Fonte: Jornal do Comércio (27/09/2017)


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