Quando vale a pena usar resina virgem ou reciclada? (Parte 1)

Vejo muita gente insistindo no mesmo erro dos dois lados: alguns produzindo peças que deveriam ser feitas com material novo usando reciclado, enquanto outros que poderiam usar plástico reciclado permanecem gastando dinheiro com material novo sem necessidade. 


Como eu trabalho com matéria-prima plástica vou dar algumas dicas para que você (comprador) tenha um equilíbrio entre custo e qualidade.

Algumas resinas sofrem muito com a reciclagem, perdem muitas propriedades e isso impede que sejam usadas em algumas aplicações. Outras não perdem tanto e já são opções consideráveis para substituir resinas virgens. A tabela abaixo fornece uma noção sobre isso:

Material reciclado Nível de desempenho quando comparado à resina virgem (usando 100% reciclado)
PE, PP 9 É uma ótima opção principalmente se o uso for à cor preta, perde muito pouco em propriedades mecânicas quando reciclado. A desvantagem fica por conta de peças que necessitam de um valor mais preciso de fluidez, pois o reciclado trabalha com margens e não com valor exato.
PS 4 A principal característica dos estirênicos é perder resistência ao impacto após a reciclagem. No caso do PS, que é naturalmente fraco nesse quesito, não vale a pena recicla-lo como PS a não ser que seja transformado para PSAI.
PSAI 7 Às vezes pode ser necessário aumentar a quantidade de modificador de impacto durante a reciclagem para que não fique quebradiço. Não perde qualidade significativa no aspecto visual.
ABS 8 O ABS geralmente é usado em peças que requerem excelente aspecto visual, e é justamente nesse ponto que o reciclado peca, além de uma queda acentuada na resistência ao impacto. É um material que compensa fazer uma mistura virgem/reciclado já que o preço da resina nova é média-alta, assim tem-se um bom custo-benefício. Aqui está sendo classificado como “8” porque estamos falando de resinas 100% recicladas, e nesse ponto a diferença de preço para o ABS é grande.
POM 9 Mesmo quando 100% reciclado é um material que não dá problema relacionado a propriedades mecânicas.
Poliamidas (ou Nylon, PA6 e 6.6) 8 A situação das poliamidas é muito parecida com a do ABS, com a diferença que as aplicações das PA’s não visam tanto a aparência e sim a resistência mecânica.
Pode acontecer de surgirem problemas relacionados a material quebradiço, espirros e manchas causados muitas vezes por contaminação durante a reciclagem. Mesmo assim o custo-benefício é atraente.

Legenda:

0 – Péssima em relação à resina virgem
10 – Mesmo desempenho que a resina virgem

Como é possível notar, na tabela acima não coloquei nenhum plástico da família dos poliésteres (PBT, PET) porque são poucas as empresas que reciclam esses materiais e sinceramente não conheço o desempenho dessas resinas quando recicladas. O PC tem um bom custo-benefício (a resina nova é cara), mas falta um estudo maior para saber seu comportamento quando reciclado em aplicações mais variadas.

O que eu posso dizer sobre os poliésteres é que mesmo virgens são relativamente “trabalhosos” de se processar quando comparados com outros plásticos, também noto muita sucata moída de PBT guardada por anos em recicladores que não se interessam por este material, isso faz com que o PBT absorva muita umidade tornando sua reciclagem inviável.

Fique de olho no fornecedor

Existem recicladoras de plásticos das mais variadas, desde as “boquinhas-de-porco” desorganizadas até empresas bem estruturadas e com material de ótima qualidade, por isso o comprador deve pesquisar bem o fornecedor para não ter problemas futuros.

Algumas empresas que reciclam materiais mais baratos como o PP, PE e PS não investem em equipamento, qualificação de funcionários e muito menos em controle de qualidade do produto.

Cito como exemplo uma recicladora de polietileno que visitei certa vez, onde pegavam sacos sujos com produtos químicos em pó ou outras contaminações (metal, madeira, papel) e simplesmente jogavam esses sacos dentro de um aglutinador e depois direto para o funil da extrusora. Não existia qualquer tipo de lavagem! As telas da extrusora entupiam a cada 10 minutos de tanta sujeira que tinha no material.

No caso dos estirênicos (PS, ABS, SAN) o que ocorre é a contaminação por plásticos da mesma família, o que pode tornar o material quebradiço. O ideal é que a reciclagem dessas resinas seja feita por empresas especializadas, que tenham profissionais capacitados para realizar a triagem na sucata e separar principalmente o ABS do PS, que podem ser difíceis de distinguir uma da outra se a pessoa que realizar a triagem não estiver habituada.

Na reciclagem das poliamidas (nylons) existe muita mistura entre 6 e 6.6, o que até certo ponto não é prejudicial, mas o que deve-se atentar é para a mistura de nylon de tecido com o nylon 6 ou 6.6 para injeção. O nylon de tecido entra em contato com sabões e outros produtos químicos várias vezes durante a sua vida útil e quando misturado ao materiais de injeção gera problemas durante o processamento.

O nylon de tecido depois de granulado tende a “flutuar” na rosca da injetora, ou seja, a máquina não consegue dosar. Uma solução para esse problema é misturar 5% de poliamida 6.6 a esse granulado, de forma que o 6.6 por ter ponto de fusão maior grude na rosca deixando-a “rugosa”, isso facilitará a dosagem.

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Bibliografia:
HARPER, Charles A.; PETRIE, Edward M. Plastics Materials and Process: A Concise Encyclopedia. Hoboken: John Wiley & Sons, Inc., 2003.
WIEBECK, Hélio; HARADA, Júlio. Plásticos de Engenharia: Tecnologia e Aplicações. São Paulo: Artliber Editora, 2005.
Artigo postado em 25/03/2012
Sobre o autor: Daniel Tietz Roda é Tecnólogo em Produção de Plásticos formado pela FATEC/ZL e Técnico em Projetos de Mecânica pela ETEC Aprígio Gonzaga. Trabalhou na área de assistência técnica e desenvolvimento de plásticos de 2008 até 2013 e atualmente é proprietário do Tudo sobre Plásticos.
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